Milena Wanderley
A carência é a doença do século XXI.
Não se sabe se foram as redes sociais,
Não se sabe se são as ondas do Wifi
O fato é que há carência, e fúria.
Há carência, fúria e fel.
As pessoas andam
como cobras cuspidoras
A cuspir desamor.
A projetar no outro
Seus vácuos
Seus fardos
Seus cacos
De estimação.
É gente que só anda apressado
É gente para quem o tempo grita:
Acorda, danado! Põe a cara no sol.
O relógio é o primeiro
Coach de fracassos.
Na cidade travada
Lavada de sangue
Banhada de lama
Ninguém é suficiente.
Na esquina de Casa Forte,
Nas ruas de Parnamirim,
Na livraria da Jaqueira,
As senhoras desfilam
Seu botoxes
Suas Marys Kays
Suas Louis Vuittons
Elas e suas dores negadas.
Se um homem com uma dor
É muito mais elegante,
Nesse cenário,
As senhoras sem amor
São muito mais irritantes.
O som ao redor:
“Eles são péssimos”
Eles: funcionários.
Eles: subalternos.
Eles: poucos.
Era uma cafeteria lotada.
Não foram nem três minutos de espera.
“Eles são péssimos!”
“O pior é aquele ali, ó!”
O dedo em riste aponta.
A alma pondera…
Pondera?