Alana ouviu a buzina.
— Meu deus, já? — disse em voz alta. Jogou a toalha na cama, pegou o vestido, pôs os sapatos. No espelho, passou batom apressadamente, ajeitou os cabelos. Nova buzina.
No carro, Juan falou, com algum sarcasmo:
— Algumas coisas nunca mudam.
Meia hora depois, estavam na fila de espera do restaurante.
— Parece que todo mundo teve a mesma ideia — comentou Alana, distraída. Juan bufou um monossílabo concordando. E, à medida que o tempo passava, esvaía-se também sua paciência. Logo estava andando para lá e para cá, tentando negociar um lugar à frente na fila, ao que a recepcionista recusou, fingindo não ter entendido. E, depois de longos cinquenta minutos de espera e uma fila ainda desconvidativa, desistiram, voltando para casa e para o tradicional pizza e vinho comprado num supermercado próximo.
O amor foi a sobremesa da fome. Despidos e cansados, Alana falou, leve:
— Você acha que o mundo será diferente, agora que vencemos essa pandemia?
Juan não respondeu; cochilava na cama. Alana, acostumada, não se importou, e leve ainda:
— Sei lá… sinto que as pessoas serão diferentes…
Malthus de Queiroz, também disponível em: http://diariodasmares.blogspot.com/