Eis a saudade
Ela samba
Pobre saudade
Mal dita
Não importa se o dia é de todos
Ela varre teus pés
Tu definhas.
Lavo as mãos
E o relógio me cozinha,
Sem tesão
Nenhum prato de farinha
É capaz de encher essa ferida:
A saudade bateu em minha porta,
Não deixou nenhum prato de comida.
Tum, tum, tum
Bate a colher na panela,
Pronde eu olho
Se avisto às vistas dela,
Seu retrato já saído do bolso
Esvazia a vontade do almoço,
A saudade bateu em minha horta
Não deixou nenhum prato de comida.
Desfazendo a mala de meus planos
Quando o peito já vive em anistia,
Não importa a frieza lá de Londres,
Quando o calor sem ti me dá azia,
A saudade bateu em minha aorta
Não deixou nenhum prato de comida.
Te procuro nas redes,
Nos jornais,
Aonde estás se ninguém te deu por falta?
Talvez seja eu mesma uma miragem
A sonhar com o retorno do futuro
A saudade bateu em minha cara
Me trancou em um velho
Quarto escuro.
[Lis Diniz]