para
Natália Tano
e Maysa Buzzolo
Preciso te dizer: no mundo há estrelas
e um punhado de galáxias em rota de colisão
Preciso te dizer que há cães famintos
chafurdando a merda comestível aos latidos
e clamando o último suspiro
(Mas ainda há estrelas, não se esqueça disso)
Tedizer que há doenças como cânceres, aneurismas, tromboses, alergias talvez seja pesado
demais num poema
(Mas não se esqueça daquela linha fortuita: ainda há estrelas pulsando como essa vida abatida
que nos escapa das unhas)
Preciso te dizer: homens fazem merda em horário comercial e fora dele fazem guerras
e matam seres inermes
caçam bichos por prazer doente e alguns rasgariam a própria mãe ao meio por alguns bens
sem nenhum remorso aparente
(Mas há as tais estrelas, caralho! Há buracos negros e giramos em torno deles, há a energia
escura e a matéria escura e a escura imensidão de imprecisão e beleza)
Preciso te dizer que há belos dias, ainda que raros
há ratos também, mas também há galos
cindindo noites e trens e seus açoites surrando o silêncio de morte
(Mas há as benditas estrelas, que morrem, mas esquecem de sumir das nossas vistas avessas
ao vazio e há o brilho que se enxerga na puta que o pariu e a sorte e o guache e o limo e a
lama refletindo suas chamas e gases contra o breu que enxerta os lugares)
Preciso te dizer que vale um punhado de ares, esta coisa pulsante respirando
entre as tuas costelas
e as ruelas em que se ama
e as flores que enfeitam a infância
e a grama onde se deita
e o corpo onde se deita
e o poema onde se deita
e a estrela, e a estrela, e a estrela
pois
deita-se também em uma estrela
a que uns chamam cruz
e outros uma nesga
de esperança rarefeita