29/08/2020
A inocência lhe escorreu
Era sangue
Não era a menarca
Esta nunca chegou
Tantos foram os abusos
Que não sabe o que é menstruar
Roubada de suas bonecas
Que em desespero mudo apenas assistiam
À subtração da infância
Dos sonhos idílicos
Que em nenhuma outra idade somos capazes
Um cabra safado
De desejo adoecido
Perversidade aflorada
Transforma a crueldade do abandono
Em desumanização
Quantas meninas ainda,
Tacitamente, perecem entre abusos?
Quantas vozes, realmente,
Se levantam a favor da vida?
Quanta vida se perde desfavorecida
Meu Deus, em teu nome, quanta iniquidade!
Como se pode pensar em preservar
A tão maculada conceição?
Paulo Muniz Filho